2012/12/29

O périplo de Erasmus e o futuro do projecto europeu


Carlos Ribeiro para INFONET
European INFONET Adult Education
www.infonet-ae.eu


Programa Erasmus. Esteve para ser denominação comum a todos os programas europeus de Aprendizagem ao Longo da Vida Erasmus for all! mas foi arredado dessa missão pelo Yes Europa. Foi ameaçado na sua sobrevivência pelo Orçamento de Bruxelas, mas aguentou firme e vai continuar a alimentar o sonho de milhares de estudantes europeus. Erasmus venceu, a Europa também.
Simboliza a própria dinâmica europeia pelo seu carácter multicultural e pela mobilidade que proporciona entre os diversos países da União Europeia e de outros com os quais existem acordos privilegiados. Com o Erasmus, nas duas últimas décadas, milhares de jovens europeus viveram  uma Europa alargada e sem fronteiras em ambiente de cooperação. Importa porém valorizar, para além desta vertente mais simbólica, a eficácia que o programa revela no apoio ao desenvolvimento das competências individuais dos beneficiários e ainda os impactos positivos que produz nos sectores profissionais dos países para os quais regressam os estudantes que beneficiam desta emblemática medida de intercâmbio entre universidades.
Samuel estuda Comunicação Multimédia na UTAD – Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro em Portugal. Encontra-se em Istambul no departamento de Cinema e Televisão e confessa que os seus receios estão longe de desaparecer “Sabemos que o valor das bolsas para Erasmus têm vindo a diminuir, especialmente em universidades com orçamento mais reduzido, e o facto de as bolsas apenas serem entregues por volta de Dezembro (pelo menos no meu caso) leva à percepção de que o programa não vive os seus melhores dias”  A Comissão Europeia e o próprio Parlamento Europeu afirmam que não se justificam quaisquer receios porque a crise foi ultrapassada e consequentemente “os actuais e futuros estudantes Erasmus podem ter a certeza: os Estados-Membros e o Parlamento Europeu evitaram uma crise de financiamento que ameaçava o popular programa de intercâmbio tendo chegado a um acordo de última hora e remover a incerteza sobre financiamento para 2013. Graças ao acordo, a Comissão será capaz de assegurar cerca de 280 000 bolsas para estudantes Erasmus no ano lectivo 2013-2014”. Esta salvaguarda foi importante e de alguma forma tranquilizou muitos candidatos e bolseiros pela Europa fora não resolvendo no entanto  totalmente a questão das disparidades existentes nos valores das bolsas que como afirma Tiago, estudante de Informática em Barcelona “Aqui em Barcelona é uma cidade um pouco mais cara e as ajudas do Estado foram um pouco baixas. Os valores dependem das instituições nas quais se estuda e daquelas nas quais se vai frequentar o programa  Erasmus.
No meu caso tive uma bolsa para os 6 meses de 1405€ e penso que a avaliação da bolsa tem a ver com a distância, pelo conhecimento que tenho de colegas que estiveram na Polónia e Lituânia a bolsa era mais elevada. Mas também não é muito, se calhar será mais alta para esses países da Europa de leste  do que para aqui ou França, ou outro sitio até mais caro”
Esta matéria coloca a questão do acesso ao Programa por parte dos sectores sociais mais desfavorecidos e, de certa maneira, suscita a dúvida da existência ou não de um Erasmus para ricos e outro (para um número muito reduzido de candidatos e bolseiros) para pobres. Tiago, na Catalunha, é secundado pelo Luís que aponta a dedo as verbas disponibilizadas “Com a actual base de apoio, que frequentemente chega tarde, é muito difícil aguentar o quotidiano no estrangeiro”
De qualquer forma as expectativas dos participantes neste tipo de programas no estrangeiro é muito elevada e alguns afirmam como o Samuel “ Os meus
planos após Janeiro, data do meu regresso a Portugal, são procurar
emprego na minha área e concluir a licenciatura já este ano lectivo.
Sei que vou encontrar um país mais triste ainda do que o que deixei em
Setembro, mas acredito que a trémula posição de Portugal se vai
alterar, até porque não há muito mais caminho até ao fundo do poço.
Em relação ao meu futuro como licenciado não ponho de parte seguir o
precioso conselho que o meu conterrâneo e Primeiro – Ministro Sr. Passos Coelho deu à minha geração e, emigrar, sendo que a Turquia é agora mais um dos possíveis destinos”.
O Programa Erasmus resistiu e para a sua defesa convergiram muitas vontades e até personalidades de renome (100 figuras mediáticas mobilizadas pela Comissária Europeia da Educação, da Cultura, do Multilinguismo e da Juventude Androulla Vassiliou). A sua permanência com pleno potencial de apoio, atendendo ao seu carácter simbólico, pode significar que ainda há esperança para o projecto europeu como plataforma de cooperação entre os povos, não se restringindo à convergência em torno de politicas económicas e financeiras protagonizadas e comandadas pelo Eurogrupo.

Carlos Ribeiro para INFONET
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