2013/11/19

Revista AGRI divulga Inovação no Meio Rural



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Inovação em meio rural rasga novos horizontes
Carlos Ribeiro
Coordenador editorial da Revista AGRI

A inovação no meio rural pode ser observada a partir de ângulos muito diversos. Pode ter por base a visão dos decisores políticos e institucionais, a experiência e a sua sistematização por parte dos actores territoriais e sectoriais, a análise e o sentido prospectivo das instituições universitárias e dos investigadores ou ainda   o olhar peculiar de inúmeras outras entidades e pessoas que influenciam e promovem acções com real impacto no meio rural.
Nesta edição da Revista AGRI propomos ao leitor que faça um percurso por esta  diversidade de olhares e enfoques, sem a preocupação de nele encontrar uma plena representatividade nacional em matéria de inovação no meio rural. Trata-se antes de mais de um convite à reflexão e ao debate sobre um tema que está na ordem do dia que sabemos poder ser ilustrado por inúmeras outras experiências e referências.

Politicas públicas reforçam a acção local
Fomos ao encontro da DGADR – Direcção Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural que acentuou a importância estratégica desta vertente e  destacou casos de sucesso e projectos inovadores que podem inspirar os que  procuram caminhos sólidos para a inovação.
Registámos com agrado que a abordagem temática da inovação em meio rural adquiriu um estatuto de destaque nas Redes Rurais Nacionais e nas plataformas europeias do sector, sendo de prever que o Novo Quadro de Programação dos fundos comunitários a contemple com medidas reforçadas de incentivo e de apoio à sua operacionalização transversal nos programas relacionados com a agricultura e o desenvolvimento rural.

Programa autónomo inviável
Todos nós sabemos que as condições básicas para a existência de um Programa Autónomo de Promoção da Inovação no meio rural não estão reunidas porque este tipo de plataforma voluntarista tem que assentar numa inequívoca relação de parceria e de cooperação dos actores a todos os níveis do sistema de inovação. Como o sentido dominante de actuação ainda é o da satisfação de necessidades de grupos de interesses muitas vezes em competição (apesar das aproximações positivas realizadas nos últimos anos, as energias em favor de uma maior densidade colaborativa ainda são dramaticamente deficitárias) prevalecerá uma lógica utilitarista e individualista na utilização dos recursos. O ritmo será em consequência mais lento e as acções serão mais espartilhadas e marcadas certamente por alguma incoerência. O argumento da abordagem transversal da inovação no conjunto das medidas programáticas irá permitir que muitos dos efeitos menos positivos das acções pulverizadas fiquem por contrariar e que o sentido estratégico da inovação estruturante fique por cumprir.
Quando se fala da necessidade de  compromissos na sociedade portuguesa para impulsionar novas dinâmicas estruturais, aqui está um campo que justificaria um empenhamento abnegado de todos os que influenciam o meio rural e que desejam um desenvolvimento sustentável para o pais.

Novas abordagens ao local
A nossa interacção com a experiência e os conceitos associados ao Museu Rural Século XXI ao longo dos últimos meses, em Idanha-a-Nova e noutras localidades do pais, reforçou no nosso seio a convicção que a plataforma estética e de intervenção territorial da Arquitecta Cristina Rodrigues e de todos os que a acompanham nesta aventura que mobiliza conceitos como os de regeneração, identidades e convergências, representa uma nova abordagem que pode revitalizar o conceito de desenvolvimento local. Nos últimos anos a valorização do local, sem abandonar uma visão global, ficou prisioneira de abordagens estritamente politicas ou de natureza ideológica que enfraqueceram o seu alcance. Os programas ocultos que dominaram a intervenção comunitária de muitas organizações, visando modalidades de governação e de desenvolvimento económico alternativos, criaram desconfiança e relegaram para segundo plano a força intrínseca das comunidades locais. Os efeitos da ausência de transparência nos propósitos são devastadores a longo prazo.
Surge agora uma oportunidade de reformulação e de reaproximação ao território com outras ferramentas de análise diagnóstica e de proposta para o desenvolvimento, que podendo ser motivo para julgamentos críticos ou rejeições, contém um elevado potencial para a recomposição dos quadros programáticos de intervenção. A combinação da arte contemporânea com os temas da ruralidade pode fornecer o tal elemento de diálogo e de reencontro dos universos rurais e urbanos, que só aparentemente constituem realidades completamente separadas, distintas e até por vezes opostas.

Inovação tem que ser sistémica
A investigação realizada no âmbito do projecto RuralInov e obviamente as suas conclusões representam um novo quadro científico e prático para a promoção da inovação no meio rural em Portugal. Em coerência com iniciativas anteriores como foi o caso do projecto europeu Rápido, que oportunamente tivemos oportunidade de acompanhar, o CETRAD| UTAD e um conjunto alargado de outras instituições associadas ao projecto, forneceu uma novo quadro de referência para a interpretação das dinâmicas inovadoras emergentes no meio rural. Tornou-se mais visível, mais concreto, mais objectivo o sentido da inovação nos contextos organizacionais e estabeleceu-se uma nova ligação entre as diversas modalidades de inovação, sendo valorizada a par da inovação de produto, de processo e de contexto, a abordagem sistémica que garante a integração indispensável numa leitura orientada para o desenvolvimento.

Conclusões devem ir para o terreno
O que fazer com todo este capital de recomendação e de propostas para acções futuras é uma interrogação legítima sabendo-se que muitas das produções realizadas a partir dos meios académicos não são posteriormente utilizadas  sobretudo pelos actores de terreno que  não dispõem de mecanismos de descodificação e de transposição para os seus contextos específicos de aplicação.
Seria aqui de pensar em instalar dispositivos de interacção entre estes protagonistas, com sentido prático e operacional e tendo por base as necessidades e as experiências existentes nos diversos domínios. Neste campo parece-nos apropriado mobilizar o conceito wengeriano de Comunidade de Prática e optar por organizar o seguimento dos processos de estudo no sentido oposto ao convencionado, ou seja, validar as próprias conclusões da investigação realizada através da sua confrontação imediata com as necessidades práticas  e candentes dos operadores da inovação em curso.
Novas referências metodológicas
A nossa referência nesta edição aos Smart Rural Living Labs é apesar de tudo reduzida. Mas não poderíamos deixar de mencionar uma das metodologias mais consistentes e mais promissoras que a nível europeu está a estimular processos  de cooperação criativa e a desenhar uma nova lógica de trabalho colaborativo, ultrapassando uma das graves falhas das actividades das Redes que radica na ausência de compromissos e de trabalho em conjunto na fase da concepção e desenho dos projectos nos quais as entidades serão posteriormente envolvidas.
A complexidade metodológica dos Living Labs é bem mais elevada mas fica desde já esta referência do evento ocorrido em Penela, um Congresso Mundial, que poderá suscitar a curiosidade e o interesse de todos aqueles que intervêm nesta campo de desafio permanente que é a inovação, no caso presente, em contexto rural.