2012/02/07

O meu projecto é solidário?

Carlos Ribeiro
Caixa de Mitos

O primeiro desafio que se coloca tem a ver com a mobilização/adesão de pessoas individuais, ou dos colectivos, formais ou informais, para empreender. Por outras palavras, como chegar até às pessoas ou entidades que têm vontade de criar (ou consolidar) um projecto solidário? Antes disso, pessoas e entidades poderão questionar-se sobre: “o meu projecto é solidário?”
Na verdade, este primeiro passo é decisivo no arranque de qualquer projecto de acompanhamento de iniciativas enquadráveis nos critérios e princípios da economia solidária. Mas então, como se faz essa mobilização? Esta decorre, essencialmente, de um processo de animação para o empreendedorismo que sendo geral na sua abordagem global deve prever um fluxo de projectos com fontes ou sentidos muito diferenciados:
-        projectos promovidos por pessoas singulares (e pontualmente por grupos de desempregados) que pretendem apenas e só ultrapassar a situação de desocupação profissional e que arriscam na promoção do auto-emprego;
-        projectos colectivos que visam o alargamento das receitas existentes num determinado contexto associativo ou cooperativo, procurando novas bases para uma das dimensões da sustentabilidade, a económica;
-        projectos propostos por entidades ou pessoas singulares numa base militante, com finalidades claramente ideológicas com uma visão alternativa das relações económicas e sociais existentes
A ideia – força de um sistema de acompanhamento aberto, que não exclui ninguém à partida apesar das intenções  muito claras de promover os princípio e valores de uma economia mais solidária, implica claramente a adopção de uma atitude negociadora e de uma expectativa auto-condicionada quanto aos  resultados finais sendo de prever uma grande diversidade de níveis de aprofundamento no termo de cada processo em concreto.
Esta perspectiva respeita alguns pontos de orientação fundamentais, tais como:
-        as representações de partida de cada participante no Programa de Acompanhamento sobre as relações económicas e sociais e em particular o sentido mais ou menos “capitalista” dos projectos de natureza empresarial;
-        a progressão / evolução que é admitida por  parte de cada um dos participantes como justa e necessária quando são projectadas para o seu próprio projecto alterações relacionadas com o sistema dominante e actual;
-        o equilíbrio nos processos de  mudança, no domínio das ideias e até das ideologias, entre a persuasão pelo discurso e a argumentação retórica e a acção inspiradora de reflexão e de reposicionamentos frutos das suas dinâmicas objectivas e subjectivas.
O que é certo é que as interpelações nas áreas convencionais de apoio a projectos são simultaneamente radicais e equilibradas, ou seja são admitidos vários níveis de resposta e de decisão (aprofundamento) em função do ponto de partida (grau de consciência) de cada promotor de projecto, no que concerne:

a)     uma organização / recrutamento dos recursos humanos do projecto tendo em conta a igualdade de género e a conciliação da vida particular e profissional;
b)     uma clara opção por politicas pró-ambientais activas, nas questões dos resíduos, dos materiais a utilizar, na gestão da água, da eficiência energética, etc
c)     produtos e/ou serviços que se enquadrem numa perspectiva não-consumista e que respeitem valores locais e tradicionais, associando-se a uma estratégia de desenvolvimento local;
d)     um sistema de poder interno marcado pela democracia participativa com uma clara opção de co-gestão e de implicação de todos os membros do projecto nas suas decisões e opções fundamentais;
e)     uma relação com o meio envolvente de forte implicação cidadã com destaque para uma responsabilidade social que comprometa a organização com valores de solidariedade social;
f)      uma visão do cliente, não apenas como o utilizador / pagador do produto ou serviço, mas antes e acima de tudo de uma actor fundamental no desenho das próprias soluções / produtos e serviços tendo em conta as necessidades reais das comunidades e um sentido do investimento orientado para o bem – estar social.
A Caixa de Mitos está neste momento a desenvolver um projecto experimental designado ECOSOL, que procura “sobretudo encontrar alguns pontos de partida comuns para uma acção colectiva no apoio a projectos de economia solidária”. Desta forma, procura-se “validar, através de uma metodologia de investigação-acção, uma tipologia de acompanhamento centrada na promoção de projectos de empreendedorismo social/solidário, baseada numa diversidade de perfis e de experiências de âmbito nacional, onde as entidades e os dinamizadores promovem soluções que resultam da acção local, devidamente contextualizada”.
Carlos Ribeiro