Caixa de Mitos
O primeiro desafio que se coloca
tem a ver com a mobilização/adesão de pessoas individuais, ou dos colectivos,
formais ou informais, para empreender. Por outras palavras, como chegar até às
pessoas ou entidades que têm vontade de criar (ou consolidar) um projecto
solidário? Antes disso, pessoas e entidades poderão questionar-se sobre: “o meu
projecto é solidário?”
Na verdade, este primeiro passo é
decisivo no arranque de qualquer projecto de acompanhamento de iniciativas
enquadráveis nos critérios e princípios da economia solidária. Mas então, como
se faz essa mobilização? Esta decorre, essencialmente, de um processo de
animação para o empreendedorismo que sendo geral na sua abordagem global deve
prever um fluxo de projectos com fontes ou sentidos muito diferenciados:
-
projectos promovidos por pessoas singulares (e
pontualmente por grupos de desempregados) que pretendem apenas e só ultrapassar
a situação de desocupação profissional e que arriscam na promoção do
auto-emprego;
-
projectos colectivos que visam o alargamento das
receitas existentes num determinado contexto associativo ou cooperativo,
procurando novas bases para uma das dimensões da sustentabilidade, a económica;
-
projectos propostos por entidades ou pessoas
singulares numa base militante, com finalidades claramente ideológicas com uma
visão alternativa das relações económicas e sociais existentes
A ideia – força de um sistema de acompanhamento aberto, que não exclui
ninguém à partida apesar das intenções
muito claras de promover os princípio e valores de uma economia mais
solidária, implica claramente a adopção de uma atitude negociadora e de uma
expectativa auto-condicionada quanto aos
resultados finais sendo de prever uma grande diversidade de níveis de
aprofundamento no termo de cada processo em concreto.
Esta perspectiva respeita alguns pontos de orientação fundamentais,
tais como:
-
as representações de partida de cada
participante no Programa de Acompanhamento sobre as relações económicas e
sociais e em particular o sentido mais ou menos “capitalista” dos projectos de
natureza empresarial;
-
a progressão / evolução que é admitida por parte de cada um dos participantes como
justa e necessária quando são projectadas para o seu próprio projecto
alterações relacionadas com o sistema dominante e actual;
-
o equilíbrio nos processos de mudança, no domínio das ideias e até
das ideologias, entre a persuasão pelo discurso e a argumentação retórica e a
acção inspiradora de reflexão e de reposicionamentos frutos das suas dinâmicas
objectivas e subjectivas.
O que é certo é que as
interpelações nas áreas convencionais de apoio a projectos são simultaneamente
radicais e equilibradas, ou seja são admitidos vários níveis de resposta e de
decisão (aprofundamento) em função do ponto de partida (grau de consciência) de
cada promotor de projecto, no que concerne:
a)
uma organização / recrutamento dos recursos
humanos do projecto tendo em conta a igualdade de género e a conciliação da
vida particular e profissional;
b)
uma clara opção por politicas pró-ambientais activas,
nas questões dos resíduos, dos materiais a utilizar, na gestão da água, da
eficiência energética, etc
c)
produtos e/ou serviços que se enquadrem numa
perspectiva não-consumista e que respeitem valores locais e tradicionais,
associando-se a uma estratégia de desenvolvimento local;
d)
um sistema de poder interno marcado pela
democracia participativa com uma clara opção de co-gestão e de implicação de
todos os membros do projecto nas suas decisões e opções fundamentais;
e)
uma relação com o meio envolvente de forte
implicação cidadã com destaque para uma responsabilidade social que comprometa
a organização com valores de solidariedade social;
f)
uma visão do cliente, não apenas como o
utilizador / pagador do produto ou serviço, mas antes e acima de tudo de uma
actor fundamental no desenho das próprias soluções / produtos e serviços tendo
em conta as necessidades reais das comunidades e um sentido do investimento
orientado para o bem – estar social.
A Caixa de Mitos está neste
momento a desenvolver um projecto experimental designado ECOSOL, que procura “sobretudo
encontrar alguns pontos de partida comuns para uma acção colectiva no apoio a
projectos de economia solidária”. Desta forma, procura-se “validar, através de
uma metodologia de investigação-acção, uma tipologia de acompanhamento centrada
na promoção de projectos de empreendedorismo social/solidário, baseada numa
diversidade de perfis e de experiências de âmbito nacional, onde as entidades e
os dinamizadores promovem soluções que resultam da acção local, devidamente
contextualizada”.
Carlos Ribeiro