Carlos Ribeiro para
European INFONET Adult Education
A ordem chegou entre o Natal e o Ano Novo. Um comunicado lacónico
dirigido a todos os Centros Novas
Oportunidades, privados e públicos, que confirmava os planos revelados em
meados do ano corrente que apontavam como inevitável o encerramento daqueles centros
especializados no reconhecimento e validação de competências e na organização
de cursos de educação de adultos. Com esta decisão governamental encerra-se um
ciclo no sistema educativo português e colocam-se milhares de adultos e de profissionais
desta área à deriva e sem perspectivas futuras.
Muitos dos directores e técnicos
dos centros agora extintos ainda se encontram em estado de choque. Não é para
menos. A comunicação ditando um categórico encerramento de todas as actividades
surgiu em termos militares, de forma seca, objectiva, sem contemplações e com
efeitos imediatos. Admite-se, na mensagem pós-natalícia, que os centros que
voluntariamente queiram funcionar até Abril 2013 em regime de auto –
financiamento o possam fazer para que os adultos que são utentes desses centros
não sejam abruptamente abandonados. Os centros ligados às escolas públicas
receberam indicações para despedimentos imediatos de todos os professores e
técnicos e foram impedidos de organizar qualquer fase de transição, exceptuando
a possibilidade de orientarem os adultos inscritos e em processos de RVC –
Reconhecimento e Validação de Competências para outros centros a funcionarem em
regime de voluntariado.
Segundo a ANQEP a Agência
Nacional para a Qualificação e Ensino Profissional organismo ligado ao
Ministério da Educação que emitiu o comunicado com a decisão agora divulgada,
os Centros para a Qualificação e o Ensino Profissional que substituirão os
actuais centros estarão em funcionamento em Abril 2013. A actual situação
constituirá, no entendimento daquela Agência, uma fase transitória para uma
reorientação destes dispositivos para as qualificações e a formação
profissional, abandonando consequentemente a plataforma cidadã e participativa
associada à educação de adultos.
No entendimento dos sectores
políticos, académicos e associativos mais críticos destas decisões, as opções
agora tomadas correspondem a um retrocesso de mais de uma década na educação de
adultos em Portugal.
Entretanto numa base mais pragmática o Presidente da ANPEFA,
a associação nacional dos profissionais da educação de adultos, segundo o Portal
Educare.pt “lamentou que a associação não tenha sido convocada para
participar no processo de reestruturação destes equipamentos dedicados à formação
de adultos ao longo da vida e que nunca tenha recebido uma resposta aos consecutivos
pedidos de audiência à ANQEP realizados para esse efeito.
Trabalhamos muito sem informações oficiais e muito com base na percepção no terreno sobre aquilo que se está a passar. E o que se está a passar é uma total desorientação", criticou.
Segundo os dados daquela associação “existiam em Junho deste ano 350 mil adultos com processos activos nos CNO – Centros Novas Oportunidades inscritos, em processo de diagnóstico ou em processo de RVCC (reconhecimento, validação e certificação de competências) - e a associação teme agora que muitos deles não possam concluir os processos iniciados ou que sejam obrigados a recomeçá-los do zero nos novos centros”.
Trabalhamos muito sem informações oficiais e muito com base na percepção no terreno sobre aquilo que se está a passar. E o que se está a passar é uma total desorientação", criticou.
Segundo os dados daquela associação “existiam em Junho deste ano 350 mil adultos com processos activos nos CNO – Centros Novas Oportunidades inscritos, em processo de diagnóstico ou em processo de RVCC (reconhecimento, validação e certificação de competências) - e a associação teme agora que muitos deles não possam concluir os processos iniciados ou que sejam obrigados a recomeçá-los do zero nos novos centros”.
Nos últimos doze anos a educação
de adultos em Portugal mudou profundamente. Uma nova estrutura organizativa apoiada numa Rede de Centros
com uma composição mista, que
envolveu escolas mas também e sobretudo associações e organizações diversas da
sociedade civil, colocou no terreno uma nova abordagem metodológica às
competências desenvolvidas ao longo da vida pelos adultos. Esta abordagem menos
escolar motivou centenas de milhares de pessoas para novos processos de
aprendizagem que se traduziram, na maior parte dos casos, mais do que em
diplomas, em reconhecimento e valorização
social na família, na actividade profissional e na envolvente social.
Esta dinâmica chegou a ser
catalogada por alguns sociólogos como um autêntico movimento social tal foi a
dimensão do fenómeno, a escala atingida e a profundidade dos resultados
alcançados.
O regresso agora preconizado aos
sistemas convencionais que se apoiam principalmente no modelo escolar
certamente terá como primeiro efeito o afastamento dos adultos e certamente
promoverá uma elite restrita no acesso à qualificação e à formação profissional
abandonando mais uma vez os mais desfavorecidos e os socialmente mais
fragilizados.
Carlos Ribeiro
3 de Janeiro de 2013