Num país dominado por sectores económicos e sociais em
profunda crise nada de mais justo do que valorizar o dinamismo registado pelo
turismo nos últimos anos e destacar os resultados positivos alcançados. Falamos
de resultados e não de impactos porque estes ainda carecem de ser avaliados.
A interrogação é legítima : será que a evolução que
estamos a observar se inscreve
numa rota autêntica sustentabilidade ou estaremos apenas e só perante mais um
ciclo de crescimento conjuntural ?
by Carlos Ribeiro, Artigo publicado no Jornal Valor Local
Desde logo importa
aferir, nos pilares que estruturam de uma forma global os processos
sustentáveis, se estamos perante uma real evolução ou se podemos apenas
sinalizar um « aumento da actividade ».
Numa interpelação
relativamente simplista poderíamos colocar a questão nos seguintes termos :
a) na variável
económica : a intensificação da actividade foi acompanhada por medidas de
integração com a economia local ? houve a precupação em incorporar
produtos locais na oferta aos turistas ? foram articuladas soluções dos
operadores do sector com elementos culturais e identitários dos
territórios ? foram desenvolvidas estratégias de fidelização baseadas nos
factores únicos e peculiares das relações humanas e personalizadas nos
ambientes experienciados ?
Relembremos pois
que os resultados económicos das actividades turísticas podem ser
profundamente ilusórios se não forem claramente definidos os critérios do tipo de competitividade
desejada. Hoteis do Algarve que servem sumos de latanja espanhola, tendo em alternativa e ao
seu dispôr uma excelente laranja local, por certo estarão a desenvolver
estratégias de rentabilidade muito imediata e com preocupações meramente
conjunturais.
b) na variável
social : o crescimento de actividade teve efeitos positivos na remuneração
dos trabalhadores e consequentemente na coesão social do território, ou foram
principalmente adoptadas políticas remuneratórias de salários extremamente
baixos ? a relação entre a qualidade do serviço e as condições sociais e logísticas
nas quais operam os profissionais do sector foram acauteladas ? ou seja a
aposta numa qualidade de excelência foi sustentada por políticas de
envolvimento e de empoderamento das equipas de trabalho, ou foram apenas
implementadas acções de cosmética de relações públicas internas que apenas
servem para iludir os clientes e os colaboradores ? A dimensão social não
é apenas aferida do lado dos colaboradores. Vejam-se as abordagens ao cliente
em matéria de mobilidade das pessoas portadoras de deficiência, Avalie-se o
tratamento indigno das pessoas idosas nas estratégias massificadoras e
exploradoras dos grupos do chamado turismo sénior. Será razoável os
equipamentos turísticos utilizarem a seu bel prazer milhares de estágios
profissionais de alunos das escolas de hotelaria e turismo e terminada a
« época alta » dispensarem-nos, sem apelo nem agravo, sem lhes
proporcionarem quaisquer oportunidades ?
c) na vertente
ambiental : o aumento da actividade terá sido acompanhado por medidas de
protecção ambiental e de valorização das condições naturais locais colocando no
centro da imagem projectada aos turistas uma radical opção de defesa da
natureza e de valorização do património natural do território ? Os
materiais utilizados nos equipamentos turísticos e a oferta alimentar revelaram uma preocupação central pelas questões ambentais ?
perante o aumento do número de clientes resistiu-se à proliferação dos
plásticos e dos materias não – recicláveis ? dificilmente poderia ser
admitido que um aumento do número
de turistas se traduzisse num descontrolo proporcional da pegada ecológica.
Se quiséssemos complicar ainda mais esta abordagem colocaríamos de forma adicional questões várias sobre a existência ou não de processos de integração das três vertentes mencionadas nas estratégias de desenvolvimento turístico levadas a efeito. Mas isso seria ser demasiado exigente. Há quem se satifaça com os resultados, de sucesso aparente. Eu prefiro esperar pela medição dos impactos que nos revelam uma verdade nua e crua sobre o rumo seguido em matéria de desenvolvimento sustentável.
Se quiséssemos complicar ainda mais esta abordagem colocaríamos de forma adicional questões várias sobre a existência ou não de processos de integração das três vertentes mencionadas nas estratégias de desenvolvimento turístico levadas a efeito. Mas isso seria ser demasiado exigente. Há quem se satifaça com os resultados, de sucesso aparente. Eu prefiro esperar pela medição dos impactos que nos revelam uma verdade nua e crua sobre o rumo seguido em matéria de desenvolvimento sustentável.
Carlos Ribeiro
Jornalista e
consultor para o desenvolvimento e a inovação